No coração de Maceió, na rua Fernandes de Barros, que mais à frente se torna a Dias Cabral, uma mulher sobrevive há quase sete anos entre pedaços do que a cidade descartou como lixo, mas que, para ela, virou abrigo.
As fotos de 2019, 2022 e 2025 mostram o mesmo abrigo, no mesmo lugar, à vista de todos. Mudam os carros, os comércios, o tempo. Mas ela continua ali, silenciosa, esquecida e invisível ao poder público municipal e estadual.
Essa imagem revela o quanto nós, maceioenses, naturalizamos e nos acostumamos com o abandono e a pobreza urbana extrema.
Enquanto é anunciado o projeto bilionário denominado “Novo Centro” da Prefeitura de Maceió como símbolo de requalificação urbana, o poder público ignora a pobreza latente diante de seus próprios olhos.
Uma pobreza extrema instalada na calçada há quase sete anos, a poucos metros de autarquias públicas federais, estaduais e municipais, e de símbolos históricos da cidade, como igrejas, o Teatro Deodoro e prédios tombados.
É uma contradição dolorosa. Sete anos sem que qualquer política social mínima chegue até ela. Sete anos esquecida e invisível. Essa mulher não é apenas uma figura solitária, é o retrato fiel da falência da nossa sensibilidade coletiva e do poder público com as causas urbanas. Quantos outros casos temos na cidade de Maceió?
É o reflexo de uma cidade que investe bilhões, mas não constrói dignidade mínima para essa senhora.
O centro de Maceió é mais do que prédios e ruas: é memória, é vida. E a presença dela, ano após ano, é um lembrete de que não há revitalização possível quando vidas humanas são tratadas como lixo na calçada.
O problema não é apenas social, é ético.
Uma cidade que aceita a miséria extrema como parte da paisagem perde sua essência. Essa mulher, esquecida há sete anos, não deveria estar ali.
Esse é o retrato da realidade do centro de Maceió: pessoas esquecidas no meio do lixo, no meio da calçada, por onde transitam gestores públicos e cidadãos comuns.
É o retrato da tragédia urbana do nosso centro.

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